Minha primeira formação, aquela que me permitiu iniciar minha vida profissional, foi de técnico em eletrônica no Colégio Técnico da Universidade Federal de Minas Gerais (Coltec) nos longínquos anos de 1983.

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Completei minha primeira formação, aquela que iria me permitir iniciar minha vida profissional como técnico em eletrônica, no Colégio Técnico da Universidade Federal de Minas Gerais (Coltec), em 1983. Quando me formei, estávamos numa época de poucas opções (alguém já ouviu isso sobre o Brasil???) e tava duro de conseguir emprego. Tentei o vestibular para Engenharia na UFMG e passei, e fui estudar no segundo semestre de 1984.

Apenas em setembro de 1984 fui chamado para fazer um estágio profissional na Embratel – Empresa Brasileira de Telecomunicações. Tinha sido aprovado num concurso e iniciei minha experiência de trabalho / estágio. Como estava iniciando meu curso de engenharia, não teve jeito, tranquei a matrícula na faculdade, para ficar 11 meses fazendo estágio.

Uma curiosidade: estávamos no governo Sarney, e os concursos para empresas estatais tinham sido proibidos. Contenção de custos dizia Brasília. Em 1985 eles voltaram a acontecer, e eu me lembro de ter feito concurso para uma empresa lá em Betim, uma tal de Petrobrás, e também para a própria Embratel onde eu estava fazendo estágio. Não passei de primeira em nenhuma das duas então … vida que segue. Fiquei desempregado após o estágio.

Foi no final de 1985 que eu consegui meu primeiro emprego, na antiga Viação Aérea São Paulo – VASP, e assim comecei de fato minha vida profissional, trabalhando como Assistente de Manutenção numa equipe com mais 4 colegas. Trabalhava em turnos de 6 horas e em fins de semana, feriados, ou seja, trabalhava direto. Mas eu gostava, tinha umas folgas malucas, e podia aproveitar dias que todo mundo estava trabalhando para poder curtir.

Nem tinha um ano de VASP e em 1986, a tal Petrobras (que eu não conhecia, apenas os postos de combustíveis da BR) me chamou para trabalhar lá. E naquela empresa desconhecida passei mais de 30 anos, aposentando em abril de 2017. Inicialmente atuei como operador de refinaria e depois como técnico de segurança do trabalho.

Nas idas e vindas do estágio na EMBRATEL, do trabalho na VASP, do trabalho na PETROBRAS, desandou meu curso na faculdade de engenharia e larguei o curso. Eu não queria continuar e estava muito desanimado com a área. Apesar de trabalhar numa emprsa de técnicos e engenheiros, ter minha vida profissional ligada à área, não queria me formar como tal.

Sempre buscando algo mais, mais conhecimento, mais vivência, então em 1989 fomos convidados a participar da diretoria do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria do Petróleo – Sindipetro/ MG. Foram dois mandatos de muita aprendizagem, quando vivenciamos como é o papel de diretor de uma entidade de classe, e nesse espaço descobrimos a saúde do trabalhador, chegando a construir o departamento de saúde do trabalhador da entidade.

Conhecíamos pouco sobre o tema e por isso negociamos com a Diretoria da entidade, e conseguimos, a contratação de uma assessoria médica do trabalho. Essa douto passou a ser nossa interlocutora e tutora na descoberta de um campo tão fértil: a saúde e segurança do trabalhador. E começamos a entender como era complexo pensar o trabalho, a saúde e a segurança do trabalhador.

Mas nossa jornada de crescimento não parou, e ainda em 1989 voltamos a estudar um curso superior na UFMG, iniciamos o Curso de Psicologia (adeus engenharia, bye bye) e foram novos aprendizados e descobertas. Foi nesse curso que fomos picados pela “mosca da saúde no trabalho”. Foi ali que criamos o apreço pelo tema e como uma cachaça nos acompanha até os dias de hoje. A coisa foi tão enebriante que eu direcionei toda minha formação na faculdade para as disciplinas que se relacionavam com o mundo do trabalho. Virei um Psicólogo do Trabalho.

E o que acontecia era uma dobradinha: no sindicato o trabalho real, na faculdade de psicologia a teoria do trabalho, da saúde mental e organizacional. Foram surgindo novos campos de conhecimento: a saúde mental e trabalho, os recursos humanos, a psicodinâmica, a psicossociologia, a gestão do trabalho, a ergonomia da atividade, a clínica da atividade, ergologia, etc. Novos conhecimentos, e mais experiências vão se somando.

Outras oportunidades surgiram em nossa vida: trabalhar como instrutor / professor de formação profissional para jovens e adultos, numa escola do SENAI, no Centro de Formação Profissional Américo Renê Gianetti, de 1998 até 2000. Foi aqui, nessa experiência nessa escolar, que descobrimos o nosso grande prazer de lecionar. Foram 2 anos muito cansativos, quase sem tempo de respirar, com 2 atividades e quase não dormindo. Mas adorei.

Saí do SENAI, e já era um psicólogo. Fui trabalhar como consultor no Instituto de Pesquisa Socioeconômico – IPESE. Tinha uma carga horária livre, podia trabalhar em casa, e estava perto de temas que me apaixonavam: como educador, como instrutor, como palestrante, sempre atuando na formação de adultos. Foi nessa época sentimos a necessidade de ampliar o olhar como psicólogo e fomos buscar uma especialização em Psicologia do Trabalho na UFMG. Voltamos para a escola.

Na Petrobras, eu estava cansado de ser Operador de Refinaria. Fui procurar um setor onde meu trabalholaboral possuísse alguma sinergia com nossa formação acadêmica e com os aprendizados que tínhamos acumulado no período. Eu queria algo que auxiliasse a refletir e pensar no trabalho e suas vicissitudes. E encontramos no Setor de Segurança do Trabalho (SMS) esse lugar. E lá vou eu de volta para a escola, em 2005 voltar para o segundo grau, para me formar como Técnico de Segurança do Trabalho (e devo agradecer à empresa, que subsidiou minha formação e aos colegas que apoiaram esse esforço).

Em 2007 já formados, conseguimos a transferência para o setor de segurança industrial da empresa. Novos olhares sobre o trabalho, novos temas: saúde, segurança, riscos, perigos, insalubridade. E nesse novo espaço nos reencontramos com a atividade formativa, pois era nossa responsabilidade ministrar uma série de cursos e treinamentos voltados para a atividade de trabalho.

Aqui entra o peso da idade, eu já não conseguia mais manter 2 atividades concomitantes, eu queria “sossegar o facho”, e me dedicar apenas a essa empreitada: desenvolver as atividades na segurança industrial, como técnico de segurança e participar ativamente, na empresa, deste esforço para redução dos acidentes. Foi uma experiência que contribuiu para que eu construísse uma nova perspectiva da atividade real de trabalho, visto por quem zela pela segurança. E só assim pude entender a importância e centralidade da atividade humana, com o trabalhador executante como o ator principal da situação, tudo isso de forma concreta, na vida real, liberando serviços, emitindo recomendações de segurança, sendo pressionado pela chefia, uma experiência muito gratificante.

Se na Operação eu tinha até coordenado uma equipe numa parada de manutenção do setor que trabalhava (SEHID), no SMS consegui uma experiência muito boa. Fui Líder de equipe de turno, coordenador de equipe na parada, coordenador de simulados, supervisor de equipe, ou seja, a minha dedicação foi recompensada pela empresa com responsabilidades e novas empreitadas. Realizei várias formações que me permitiram atuar como instrutor de trabalho em altura, de trabalho em espaço confinado, da Brigada de Emergência (EOR), de combate a incêndio, reconhecimento de área, de exercício simulado, etc. Foi um período muito profícuo esse 10 anos como técnico de segurança.

Chegamos em 2017, mês de abril, estou aposentado, e vou buscar na Faculdade de Educação da UFMG um mestrado. Passei no concurso e quero fazer uma pesquisa onde consiga conjugar a minha experiência de trabalho com as reflexões que a universidade vai me permitir fazer. E quem sabe, com essas novas perspectivas eu possa contribuir de alguma forma prática para melhorar a formação em segurança nas empresas, apoiando os profissionais de segurança do trabalho na sua atuação como educador, contribuindo na prevenção e redução dos acidentes e mortes no trabalho no Brasil, com números muito significativos.

Essa é minha história. Esse é motivo de eu estar aqui nesse site.

Foi a partir dessas vivências que surgiu a ideia de fazer esse blog, o PsicoSeg, onde vamos aplicar a psicologia na segurança do trabalho e o site Elipsy, onde quero apoiar o desenvolvimento pessoal e profissional de quem trabalha com a saúde e segurança dos colegas.

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