Os acidentes no trabalho fazem parte da realidade no Brasil e apesar do esforço para a redução de números tão significativos, muito ainda temos que avançar. Sou especialista em psicologia do trabalho e técnico de segurança do trabalho, e tenho certeza que o trabalho conjunto dessas duas ciências pode contribuir ativamente dos esforços para reduzir os acidentes.
Ambas podem somar esforços e contribuir na construção das mudanças necessárias. Trabalhando com os profissionais da segurança (SESMT, CIPA, SMS, etc.), a psicologia pode levar a sua perspectiva e conhecimento sobre o ser humano, auxiliando-os a ir além da simples visão do comportamento, saindo do excepcional do acidente e indo buscar respostas no dia-a-dia da atividade.
Segundo Lima (2009), os resultados práticos, quando pensamos na melhoria das condições de trabalho ou na redução acidentes e doenças ocupacionais, estes não se equivalem com todo o conhecimento que acumulamos na área de segurança, e apesar de todo esforço realizado no Brasil, em equipamentos, programas, normas, etc. o que podemos constatar é que os índices de acidentes e doenças ocupacionais ainda continuam extremamente elevados.
“A cultura de segurança não é algo que floresce pronta em uma organização, assim como uma experiência de alguém que viu a morte de perto; ao contrário, ela emerge gradualmente através da persistência e aplicação sucessiva de práticas terrenas. Não há nada de místico nisto”. (REASON, 2000).
Sempre nos perguntamos porque será que apesar de todos os esforços os acidentes continuam a acontecer em números tão significativos? Nosso esforço em segurança do trabalho está direcionando suas forças de maneira improdutiva? Será que precisamos de novos olhares nas análises dos acidentes, que contribuam efetivamente para o aprendizado e mitigação dos mesmos? Será que precisamos pensar em longo prazo, para podermos pensar numa segurança intrínseca à atividade ?
Por isso a nossa busca de melhoria em segurança, para que seja alterada a realidade de trabalho, deve ocorrer no cotidiano das atividades, no dia a dia do trabalho. Precisamos entender os mecanismos cognitivos que levam um executante a escolher uma opção de execução da tarefa, dentro da dinâmica de sua atividade, para pensarmos em novas formas de gestão da atividade. Entender quais todos os aspectos que
São nas situações normais de trabalho que são encontrados os alicerces do acidente, e também a maneira de se evitá-los, e somente o trabalhador, que executa a atividade, é capaz de fornecer subsídios para que se possa alterar a mesma e criar uma nova concepção de segurança,
Por entendermos a importância da formação continuada para quem atua na área de saúde e segurança do trabalho (SST), que só através da melhoria contínua mudaremos a realidade dos acidentes de trabalho no Brasil, que estamos desenvolvendo esse BLOG como mais uma fonte de capacitação e da qualificação para quem tá na linha de frente no enfrentamento dos acidentes de trabalho.
Não temos a pretensão de reorientar a segurança no Brasil, seremos apenas uma gota nesse rio caudaloso, mas queremos apresentar uma nova abordagem, que se somará a outras visões e nela estará no centro dos olhares a participação dos trabalhadores, na construção da sua segurança.
FONTES:
- Francisco de Paula Antunes Lima. Ações coordenadas em saúde do trabalhador: uma proposta de atuação supra-institucional. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, 34 (119): 67-78, 2009.
- James Reason. Human error: models and management. Bmj 320.7237 (2000): 768-770.
- Renato Silva dos Santos. Erro humano? Discutindo um acidente de trabalho numa indústria química. 2010. Monografia (Especialização em Psicologia do Trabalho). Belo Horizonte: Faculdade Filosofia e Ciências Humanas / Universidade Federal de Minas Gerais, 2010.